domingo, 13 de abril de 2014

CRÍTICA DA JORNALISTA ANA PAULA CARVALHO

ESSA É A CRÍTICA DA JORNALISTA ANA PAULA CARVALHO, DE CURITIBA, APÓS HAVER VISTO O ESPETÁCULO NO FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA

PARA DEIXAR ECOAR NA ALMA
A princípio, recebi a indicação da peça “O Mapa do Meu Mundo” com a informação de que a atriz, Rosi Jacomelli,apresentava um trabalho corporal fenomenal. Aí a mente já ficou imaginando como seria isso e o “pré-conceito” quase me fez desistir da peça achando se tratar de performances enigmáticas no palco. Ledo engano.
Na minha opinião, o teatro é feito para ecoar na alma e gosto quando saio pensativa, reflexiva, quase muda de uma apresentação. Foi o que aconteceu. Na peça "O Mapa do Meu Mundo", tudo comunica. Desde o não-cenário, onde o pano traspassado ao fundo e o jogo de luzes cumprem com o seu papel de maneira exemplar, assim como a sonoplastia, que é exata, sem exageros, nem mais nem menos. Exata.
Tudo na medida certa porque quem se sobressaiu foi a interpretação. Até a atriz fez questão de vestir o básico para não se sobrepor a suas falas e gestuais. E, para quem acha que se trata de um monólogo, é bom já avisar: Rosi Jacomelli encheu o palco com muitos outros personagens: avós, pai, mãe, irmãos, marido, mulher, filha... Em cada uma das facetas, era possível se identificar com uma situação particular que já vivenciei e muitos ali também.
Muito mais do que relembrar casos em que nos encaixávamos, a performance serviu de reflexão e isso é muito particular e acredito que cada um saiu com uma mensagem que é personalizada. E essa é a magia do teatro.
Para mim, ficaram muito marcadas falas do tipo "De que adianta sair da pobreza se a pobreza não sai de mim" e "estou descabelada por fora e por dentro". Magistral.
E, na minha interpretação, houve um momento em que a atriz, ao se despir de um fino pano, se desfez dos moldes a que nos conformamos ser, agir, pensar e nos expressar na sociedade. Ou quando no começo ela abre um poço e se joga para alcançar o alçapão que tem ali dentro. Para mim, a interpretação de que nossa vida é cíclica, feita de altos e baixos, mas que vale a pena lutar para sair do estado catatônico que às vezes o poço nos impõe.
Enfim, são várias as lições e essas foram as que me marcaram, porque acredito que, assim como nessa peça, estamos aqui nesse mundo para sermos únicos, exclusivos, um formato-pessoa que não tem formato, mas sim o direito de ir se moldando e nem assim com alguma obrigação de tomar forma. Esse talvez seja o segredo e que tenha calado fundo na minha alma.
A quem já viu a peça, uma vez só é pouco e pretendo ainda rever e tomar novas lições. Para quem não teve ainda a oportunidade, não a deixe escapar porque pode ser a diferença entre passar pela vida ou vivê-la com a consciência de que são suas próprias escolhas.